Óleo sobre tela de Jean-Léon  Gérome (1824-1904) . "Versão 1" (nu frontal).
Data: 1860
Londres, The Bridgemen Art Library
Texto superinteressante do Eugênio Mussak, publicado na revista vida simples e acessado no site: Sapiens Sapiens :
Preste atenção nesta bela história, retirada da inesgotável mitologia grega:
“ Pigmalião conheceu a mulher perfeita. 
As formas de seu corpo e a suavidade de sua face eram complementares e 
totalmente harmoniosas. Nenhuma curva era tão pronunciada que a tornasse
 exagerada, nem era tão sutil que a fizesse despercebida. A pele era 
suave e deixava perceber a vibração de cada músculo que recobria, como 
se estivesse em um esforço para conter tanta vida. Sua pose era 
insinuante, dotada de um isto de majestade e de sensualidade que, ao 
contrário de serem antagônicas, eram sensações que criavam uma perfeita 
sinergia, conferindo uma beleza praticamente indescritível. O sorriso 
enigmático e o olhar ligeiramente perdido constituíam um capítulo a 
parte. Decifrar o enigma e acudir a expectativa daquele olhar eram 
praticamente uma obrigação”.
A mulher de Pigmalião não tinha 
defeitos. Ou melhor, quase não tinha… Apenas um detalhe o afastava da 
felicidade de usufruir tal companhia: a mulher de Pigmalião era uma 
estátua que ele mesmo esculpira e pela qual se apaixonara, pois pusera 
nela toda a perfeição que a arte pode criar.
A estátua de Pigmalião, conhecida na 
mitologia grega, reflete o comportamento humano de imaginar modelos 
ideais de vida e sofrer por não conseguir transformá-los em realidade. 
Como esses modelos são emocionais, estão desprovidos da lógica que seria
 necessária para lhes dar sustentação. E surge, então, o embate entre o 
ideal e o real.
Para a maioria das pessoas, esse gap
 é absorvido por uma estrutura de personalidade que sabe lidar com a 
frustração. Para outros, pode virar motivo de sofrimento, às vezes 
paralisante. Você já ouviu, decerto, que o ótimo é inimigo do bom. Quem 
não se contenta em fazer certo, querendo sempre fazer perfeito, acaba 
não fazendo nada.
Só que a história de Pigmalião não se 
esgota com seu desespero de não conseguir dar vida à sua estátua. Ele 
foi à luta. Procurou uma alternativa para transformar sua expectativa em
 realidade e encontrou a solução na ajuda de Afrodite, que concordou em 
dar vida à escultura, transformado-a em uma mulher de verdade.
Devemos lembrar que Afrodite era a deusa
 da beleza e do amor, o que nos oferece a lição de que, quando fazemos 
algo com amor atingimos a perfeição, talvez porque o amor seja a única 
manifestação real da perfeição.
Comecei a meditar sobre isso a partir das famosas "resoluções de ano novo": geralmente uma lista imensa de desejos, projetos, decisões a serem desenvolvidos no ano vindouro. Novas posturas emocionais, comportamentais, relacionais. O interessante foi perceber que muitas vezes a lista se torna tão extensa e complexa que talvez uma vida inteira não fosse sufuciente para finalizá-la, muito menos um mísero ano, fulgazes 365 dias...
Ainda não cheguei a uma conclusão definitiva, mas tendo a acreditar que seria muito mais útil, proveitoso e realista escolher menos aspectos a serem desenvolvidos e ao mesmo tempo buscar um trabalho de aceitação quanto a si mesmo, quanto ao fato da imperfeição...
Como disse a Mercedes, no livro/filme Divã, que adoro: Eu vou ter que conviver com minhas irrealizações.
É por aí: viver bem com o que se tem.
 
 
 
 
 
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