23 de julho de 2009

Na madrugada...

daqui


Há tempos coloquei aqui o trecho 46 do livro do desassossego. Livro que é  uma “paulada pessoana” do começo ao fim. Uma leitura difícil, um verdadeiro mar bravio a ser atravessado.
Porém um livro sumamente magnífico.
Nesse trecho,Fernando, sob o pseudônimo de Bernardo Soares comenta elogiosamente um poema do mesmo Fernando, desta vez sob o pseudônimo de Alberto Caeiro:
"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura."
A pauta da vida aceita o molde proposto pelos nossos horizontes. A nossa vida é aquilo que dela enxergamos  e isso está umbilicalmente atado ao que apreendemos do nosso derredor.
O nosso horizonte, aquele geograficamente extendido, aquele fruto do viajar, do elastecer o conhecimento empírico e real de outros lugares, outros aromas, outros ares...como o viajar aguça os sentidos, desperta consciências e muda nosso jeito de encarar a vida. Por isso, sabiamente se disse que ninguém volta igual de uma viagem...
Mas não só esse. Há um outro meio, que pode ser tão rico tanto, apesar de nunca substituir o anterior. É a literatura.
Ler é viajar sem sair do lugar. É sair do lugar permanecendo onde se está. É, sobreduto, partir em direção a um novo “eu”, que nos aguarda exatamente depois da última linha do texto.
A leitura pra mim é vida e sonho e bálsamo. A chance de expandir, ultrapassar, entender a mim mesma. A universalidade dos sentimentos retratada das mais diversas formas apenas me espelham. A minha humanidade se referencia nos que já passaram pelo mundo e experimentaram as mesmas questões, dúvidas, alegrias, prazeres.
Ler também é viajar. Não fisicamente, mas emocionalmente.
Muito me chamou a atenção um texto que vi pela blogsfera: nele a autora falava que vez ou outra, em determinadas leituras, num momento ela parava e abraçava o livro, agradecida pelo sentimento de identidade, pelas palavras de outra pessoa que traduziam com precisão o que ela gostaria de expressar, o que ela sentia.
Se eu pudesse abraçar um blog, teria feito naquele momento. Sinto exatamente a mesma coisa, e já andei me agarrando com algumas literaturas. Eram em momentos tais que na minha (suposta) solidão, eu sentia que não voltaria ao ponto que estava antes da leitura. Era a sabença do meu horizonte se expandido. Quando eu me via vendo mais... portanto maior do que eu era então. Embora continuasse com meus minguados e insinceros 1,60 ( 1,595, na verdade).
Por isso, voltando ao começo – como tudo na vida sempre faz questão de fazer, lembrei da antiga descrição do blog, que é também do Fernando ( será que eu não canso??rsrsr). Acabei mudando, por outras razões, mas que retrata muito bem esse viajar. O salto para o novo e para o futuro que tanto almejo, o mergulho em mim mesma que me levará além...será dele também o final deste post madrugal.
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”

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