27 de outubro de 2009

Alice in Wonderland




PARA MARIA DA GRAÇA
Paulo Mendes Campos

Agora que chegaste a idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.


Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler esse livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala verdade, Dinah, já comeste um morcego?".
Não te espantes se o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?". Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão estranha em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que eu inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha" o importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço. Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada, e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gatos se fosses eu?".
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo o que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou? Mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "Minha história é triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam um romance, pois, um romance é só um jeito de contar uma vida, foge, polida, mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!". Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desespere ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito. Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou nos nossos domínios disfarçados de camundongos. E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre muito cômico, nunca devemos perder o humor.
Toda pessoa deve ter três caixas para guardar o humor: uma caixa grande para humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. CUIDADO, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.



Encontrei esse texto nas minhas garimpagens pela net.
Em uma palavra. Pancada.

Já li,li, li,e li de novo.
E vem filmão por aí, na certa. Estréia prevista para 05.03.10. Alguma dúvida de onde estarei nesse dia?
Alice in Wonderland, de Tim Burtom.



Agora já vou, por que estou atrasada,ó meu deus, como estou atrasada!


Boa III



"Em terra de hipócritas, quem admite é rei!"
Nivaldo Vasconcelos

26 de outubro de 2009

Poesia sempre...



Todo o meu universo - que a alma segreda-
é essência de um dom, uma postura,
revela minhas emoções - sensibilidade à flor da pele-
que sinto pelas letras, melodias, livros...cultura!
(Kênia Bastos)

22 de outubro de 2009

Por que eu amo Rubem Alves



"Saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar." 

Pequenas Epifanias.




Tô juntando um material do Caio Fernando Abreu.
Ele tem aquele pungência de vida que me encanta e que encontro em alguns escritores.
Uma urgência peculiar. Familiar.
Aí dei uma olhada em um, dei uma olhada em outro ( que virou até filme - Onde andará Dulce Veiga).
De repente, não mais que de repente... deparei-me com as pequenas epifanias.
E os meus dias têm sido assim: na "série de solavancos sem rumo nem ritmo, que eu, com certa complacência e sem muita originalidade, estava habituado a chamar de minha vida" - sigo de epifania em epifania. Pequenas revelações de Deus, insights que sinceramente espero se tornem pensamentos que se transformarão em ações, que virarão hábitos que mudarão a minha vida.....


PEQUENAS EPIFANIAS
Dois ou três almoços, uns silêncios.
Fragmentos disso que chamamos de “minha vida’:
Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus — enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector — Tentação — na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
O Estado de S. Paulo, 22/4/1986

19 de outubro de 2009

Hoje tá rolando um samba no Céu....



O poetinha teria 96 anos hoje...
Agora ele tá poetando ( e amando, tenho certeza) lá em cima.


Para Viver Um Grande Amor
Vinicius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Ficar em casa, de Carlos Drummond de Andrade



Passar quatro dias e quatro noites em casa, vendo o carnaval passar; ou não vendo nem isso, mas entregue a uma outra e cifrada folia, que nesta quarta-feira de cinzas abre suas pétalas de cansaço, como se também tivéssemos pulado e berrado no clube. Não ligar a televisão, esquecer-se do rádio; deixar os locutores falando sozinhos, na ânsia de encher de discurso uma festa à base de movimento e de canto. Perceber apenas o grito trêmulo, trazido e levado pelo vento, de um samba que marca realidade lúdica sem nos convidar à integração. Beneficiar-se com a ausência de jornais, que prova a inexistência provisória do mundo como arquitetura de notícias. Ter como companheiro o irmão gato Crispim, exemplo de abstenção sem sacrifício, manual de silêncio e sabedoria, aventureiro que experimentou a vertigem da luta-livre nos telhados e homologa a invenção da poltrona. Penetrar no vazio do tempo sem obrigações, como num parque fechado, aproveitando a ausência de guardas, e descobrindo nele tudo que as tabuletas omitem. Aceitar a solidão; escolhê-la; desfrutá-la. Sorrir dos psiquiatras que falam em alienação do mundo e recomendam a terapêutica de grupo. Estimar a pausa como valor musical, o intervalo, o hiato. O instante em que a agulha fere o disco sem despertar ainda qualquer som. Andar de um quarto para outro sem ser à procura de objetos: achando-os. Descobrir, sem mescalina, as cores que a cor esconde; os timbres entrelaçados no ruído. Olhar para as paredes, ou melhor, olhar as paredes em torno dos quadros. Sentir a casa como um todo e como partículas densas, tensas, expectantes, acostumadas a viver sem nós, à nossa revelia, contra o nosso desdém. Habitar realmente a casa, quatro dias: como ilha, fortaleza, continente; infinito no finito; reconsiderar os livros, arrumá-los primeiro com método, depois com voluptuosidade, fazendo com que cada prateleira exija o maior tempo possível; verificar que antes é preciso tirar a poeira de um, remover a boba capa de celofane que envolve a encadernação de outro. Reler dedicatórias, abrir ao acaso livros de poetas que preferimos e que infelizmente não são os mais modernos, nem os mais célebres; copiar meia estrofe por onde corre arrepio verbal; separar volumes que não nos falam mais nada e que devem tentar seu destino em outras casas. Sentir chegada a hora dos álbuns de pintura com pouco ou nenhum texto, e dos volumes iconográficos que nos contam Paris ou a vida de Mallarmé. Viajar em fotografias; sentir-se imagem flutuando entre imagens; a terra domesticada em figura, tornada familiar sem perda de sua essência enigmática. Reconhecer que muitos livros comprados a duras penas, pedidos ao estrangeiro ou longamente minerados nos sebos, não têm mais do que essa oportunidade de comunicação durante o ano; deixar que fiquem a sós conosco e nos confiem seu segredo. Admitir a fome, sem exigência de horário, e matá-la com o que houver à mão; renunciar à idéia de almoço e jantar, com reverência ao sagrado direito que assiste a todos, inclusive e principalmente às cozinheiras, de brincarem o seu carnaval; achar mais gosto nessa comida, porque não é regulamentar nem é seguida de nada: todas as obrigações estão suspensas, e só valem as que soubermos traçar a nós mesmos. Descortinar na preguiça um espaço incomensurável, onde cabe tudo; não enchê-lo demais; devassá-lo à maneira de um explorador que não quer ser muito rico e tanto sente prazer em descobrir como em procurar. Assim vosso cronista passou o carnaval: sem fugir, sem brincar, divertido em seu canto umbroso.


Que bonito! Que beleza... nunca poderia deixar de guardar isso aqui...Drummond maravilhoso! Isso é que é escrever.

18 de outubro de 2009

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Dentro do mar tem rio.


                    "Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar " Sophie de Mello Breyner


Eu tenho estado muito com o mar.
Ele vem me dizendo várias coisas:
Eu nunca permaneço o mesmo.
Eu nunca canso de avançar, embora precise recuar para continuar ir à frente.
Posso ser calmo ou tempestuoso, límpido ou turvo e aceito esta realidade.
Trago alimento, prazer, vida, e posso levar à morte: tudo depende de como as pessoas me encaram.
Jamais serei dominado.

Por duas vezes, nesse final de semana, tive a oportunidade de estar em frente ao mar. E de ouvir novamente a pérola da Bethania, o show Dentro do mar tem rio...

E de novo me sentir arrebatada por ele, sua imensidão, sua profundidade, sua beleza.
E aí me lembro de Clara, me lembro de Caymi...alguns que, dentre vários, cantaram o mar e sua poesia intrínseca....
São sempre momentos únicos, momentos de paz, momentos de comunhão com a vida nos quais rogo por mais aprendizado, mais fé, mais força... força que é a imagem máxima das águas...


O mar...misterioso mar....

17 de outubro de 2009

O que mais vale a pena é estar vivo.




O meu blog é bem a minha cara ( como não poderia deixar de ser).
Não entendo quase nada, mas dou palpite em quase tudo.
Minha matéria prima são as coisas que vejo, que percebo, que sinto, e muitas vezes um mero vir a ser, coisas que eu gostaria de ter, sabedoria que gostaria de aplicar em minha vida.
E o que eu gosto.
Tudo o que está aqui eu gosto muito, embora nem tudo que eu goste esteja aqui.
O que me encanta mesmo é a palavra. O que me desmonta mesmo é o impacto de uma frase. O que me conquista mesmo é a conversa....
Daí que eu ando sempre às voltas com meus companheiros de estrada, que viraram figuras fáceis da minha página: Pessoa, Leminski, Medeiros, Alves, Drummond.
Pessoa , Leminski, Medeiro Alves, Drummond.
E outros foram chegando, tomando espaço no meu coração e ganhando cadeira cativa: Cecília, Clarice, Rosa.
Rosa pra mim teve o impacto de um elefante caindo do 20º andar. Qualquer coisa explosiva.
Há uns dias ele anda soprando no meu ouvido “ a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para o total.”
Estou aqui, parada, fazendo nada, e escuto: ...” para o total”...
Por que o mundo ( mundo mundo, vasto mundo..) É grande.... e tem tanta coisa boa, tanta gente boa... não vale a pena ficarmos marcando passo em nada, e deixar tanta vida lá fora, tanta aventura...tantas possibilidades, por causa de supostas certezas que temos, por causa de falsas idéias de segurança. O negócio é abrir a cabeça. Mesmo.
E eis que minha amiga Renatinha criou um acervo cultural no seu Orkut. Que idéia boa! Eu to sempre contribuindo e vendo o que a galera posta lá. Tanta coisa bonita, e de tão diferentes origens... e o que é isso, senão abrir a cabeça para o total? Beber de outras fontes, ouvir outras versões, se re-construir a partir do novo...MUDAR....
E é de lá que vem essa poesia musicada, do Lenine, fonte da qual eu não bebo constantemente, e que provavelmente não estaria aqui se eu não estivesse aumentando minha cabeça... mas suas palavras não deixam dúvida..Eis aqui um CORAÇÃO vivo.
Precário, provisorio, perecível
Falível, transitório, transitivo
Efêmero, fugaz e passageiro:
Eis aqui um vivo
Eis aqui um vivo

Impuro, imperfeito, impermanente
Incerto, incompleto, inconstante
Instavel, variável, defectivo
Eis aqui um vivo
Eis aqui

E apesar
Do tráfico, do tráfego equívoco,
Do tóxico do trânsito nocivo;
Da droga do indigesto digestivo;
Do cancer vir do cerne do ser vivo;
Da mente, o mal do ente coletivo;
Do sangue, o mal do soropositivo;
E apesar dessas e outras,
O vivo afirma, firme e afirmativo:
"O que mais vale a pena é estar vivo"

Não feito, não perfeito, não completo,
Não satisfeito nunca, não contente,
Não acabado, não definitivo:

Eis aqui um vivo

Eis me aqui

16 de outubro de 2009

Fazendo o que Rosa mandou









Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total. João Gimarães Rosa

"Não leve as experiências da vida tão a sério. Não deixe principalmente que elas o magoem, pois na realidade, nada mais são do que experiências de sonho... Se as circunstâncias forem ruins e você precisar suportá-las, não faça delas uma parte de você mesmo. Desempenhe o seu papel no palco da vida, mas nunca esqueça de que se trata apenas de um papel. O que você perder no mundo não será uma perda para sua alma. Confie em Deus e destrua o medo, que paralisa todos os esforços para ser bem sucedido e atrai exatamente aquilo que você receia." Yogananda

É a isto que a psicologia transpessoal chama desidentificação. Ou seja: observo os meus pensamentos e os meus sentimentos, mas não me identifico com eles. Olho para o que tenho que fazer, mas não sou aquilo que tenho que fazer. Tenho raiva, mas não sou a minha raiva... Observo os meus pensamentos e os meus sentimentos, por ex. o medo, e coloco-me por detrás dele como uma testemunha imóvel e como um si-mesmo intocável e inatingível. A desidentificação liberta-me da obrigação de ter de realizar a minha tarefa com perfeição. A des-identificação é, segundo a psicologia transpessoal, a verdadeira terapia. Enquanto nos identificarmos com algum problema, ele será o nosso problema constante.Só nos tornaremos realmente livres do problema quando pararmos de nos identificar com ele. Anselmo Grün


  Por que o que temos mesmo é que abrir a cabeça para o total....

15 de outubro de 2009

Caminhando




No rastro dos nossos passos
Vai ficando pra trás
O que fomos.
No compasso do acaso
Seguimos em busca
Do que um dia seremos.

Até lá, de incerteza em incerteza
Seguimos.
Encontrando e perdendo
Destinos.
Construindo e desconstruindo.
Verdades.
Alimentando e matando
Sonhos.
E vamos ficando pelo caminho.

Paula Mirlla

Depois da enchente.



depois da tempestade,
ainda que o dia esteja cinza,
eu estarei brotando.
ramas verdes cobrirão todos os desníveis.
o amor ocupa os defeitos,
cria novas oportunidades.

Alê Quites

14 de outubro de 2009

Do entendimento



Por Clarice Lispector:

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."


A gente não sabe, não entende, e portanto não consegue explicar.
Se soubéssemos, entenderíamos.
Como é que se pode entender o que não se sabe?
Aí vem Clarice com seu brilhantismo desconcertante e diz: não entender é uma benção.
Talvez seja, mas tão somente se a gente  não se importar em não entender...
Vá enteder! 

13 de outubro de 2009

Que beleza!



Que beleza é sentir a natureza,
ter certeza pra onde vai e de onde vem.
Que beleza é linda pureza,
e sem medo distinguir o mal e o bem.

Uh uh uh que beleza
Uh uh uh que beleza

Que beleza é saber seu nome
sua origem, seu passado e seu futuro.
Que beleza conhecer o desencanto
e ver tudo bem mais claro no escuro

Abra a porta e vai entrando
felicidade vai brilhar no mundo...

Só pra começar a semaninha com o que a vida tem de melhor a nos oferecer: Alegria!!!!

10 de outubro de 2009

Tom e Vinícius



No último final de semana fui ao teatro ver " Tom e Vinícius". Nele, alguns episódios que marcaram a relação da dupla...a formação da bossa nova, da qual os dois, junto com João Gilberto formam a tríade essencial. Mas do que fazerem bossa nova, eles foram a bossa nova.
E com certeza muitos ali como eu, amam a bossa nova. Muitos ali como eu, cantaram todas as músicas...
Eu sempre apreciei Tom, sempre gostei do poeta Vinícius de Moraes.
Mas minha paixão pela bossa e seus personagens ( João, Bôscoli, Nara, Newton Mendonça, Tom e Vinícius...) começou mesmo, bem despretensiosamente, ( como começam todas as paixões) quando li o Chega de Saudade, do Ruy Castro, o qual animadamente recomendei para meu companheiro de assento, um não iniciado. Ao que, rapidamente uma senhora que estava próximo ouviu e indicou-me Noites Tropicais, do Nelson Motta, sugestão prontamente aceita e cuja leitura já iniciei. Coisa de bossa-novistas entusiasmadas.
Por que simplesmente adoro as histórias por trás das músicas, suas origens, sua razão de ser.
Por que toda canção é a resposta, em música, do sentimento, do desejo, qualquer que seja ele, qualquer mesmo, até o evidentemente interesse mundano no vil metal.
E por que sem música, a vida seria um erro. Como já muito bem disse Nietzsche.

E enquanto procurava a imgem do espetáculo, qual não foi a surpresa ao me deparar com a capa do disco em que Tom e Vinícius inauguraram sua parceria musical e por que não dizer a bossa nova, na voz de Eliseth Cardoso " Canção de amor demais". Tom não queria Eliseth para o disco, pois durante os ensaisos que que aconteciam invariavelmente em sua casa, na Rua Nascimento e Silva, 107 , no Leblon,  ela insistia em soltar o vozeirão e Tom tinha que explicar o timbre suave e baixo que seria a marca registrada da  Bossa Nova, mas, para Vinícius,ela seria a única  que poderia cantar esse disco de estréia... acabou vencendo a vontade do poetinha.

Episódio que ele mesmo revisitou, tempos depois, com seu novo parceiro Toquinho, quando Tom já não morava mais no Brasil, em Carta ao Tom 74:

Rua Nascimento Silva,cento e sete
você ensinando pra Elizete
as canções de canção do amor demais
lembra que tempo feliz,ai,que saudade
Ipanema era só felicidade,
era como se o amor doesse em paz
Nossa famosa garota nem sabia
a que ponto a cidade turvaria
esse Rio de amor que se perdeu
Mesmo a tristeza da gente era mais bela
e além disso se via da janela
um cantinho de céu e o Redentor
É,meu amigo,só resta uma certeza
é preciso acabar com essa tristeza
é preciso inventar de novo o amor





9 de outubro de 2009

Puro deleite



"Para o sapo o ideal de beleza é a sapa."
Voltaire

Rendição


Esse é um blog de questionamentos, reminiscências, conjecturas e perquirições sobre a vida e as pessoas.
Mas às vezes.... mas às vezes....
Dane-se!
Hoje é sexxxxxxxxtttttttttaaaaaaaaaaaaaa!

Tonight is always THE night!

8 de outubro de 2009

Boa II



"Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar."

F. Nietzsche

Boa



Antigamente, bem antigamente, se faziam com frequência 3 perguntas:

Quem sou?
De onde vim?
Para onde vou?

2 perguntas mais práticas talvez fossem:

Como sou?
Para que sou?






( Somos todos um)

7 de outubro de 2009

Perdoa-os senhor eles não sabem o que fazem.



Como a vida é engraçada, meu Deus!

Uma só palavra.


Somos todos iguais nesta noite.



Ontem eu estava navegando, quando me deparei com um texto que me chamou muito a atenção: eu queria ler alguma coisa sobre confiança, e lá pelas tantas, a escritora ou escritor- infelizmente não salvei a página, e não a encontrei de novo, trazia o seguinte pensamento:
" Sendo parte do universo e da natureza, que são sábios, será que não podemos compreender que fazemos parte deste movimento e simplesmente relaxar, aguardando o que a vida nos trará?" Sei que não era exatamente essa a frase, mas acho que consegui captar o cerne da mensagem. E me bastou.
Acho que eu estava precisando do reconhecimento de que estando imersa nessa conjuntura cósmica, faço parte dela e portanto estou sujeita às mesmas leis que a regem.
E a natureza é sempre sábia e perfeita- nisso eu acredito - e assim eu também tenho, mesmo que mínima, mesmo que irrisória, parcela de sabedoria e de perfeição, e ainda que não seja a suficiente, a só sensação de estar compreendida em algo maior, que direciona as coisas para o que elas devem ser, me fez relaxar.
Ontem, ao invés de me desidentificar do meu sentimento, eu estava procurando justamente ao contrário: identificar-me com algo mais profundo, sólido e principalmente mais sábio do que eu tenho conseguido ser.

6 de outubro de 2009

Da aceitação III - Por OSHO


Se você aceita a si mesmo, esse é o começo da aceitação de tudo. Se rejeita a si mesmo, você está basicamente rejeitando o universo; se rejeita a si mesmo, você está rejeitando a vida.

Se aceita a si mesmo, você aceitou a vida; então não há nada mais a fazer além de sentir prazer, celebrar. Não há do que se queixar, não há ressentimentos; você se sente grato.

Então a vida é boa e a morte é boa; então a alegria é boa e a tristeza é boa; então, estar com a pessoa amada é bom e estar sozinho é bom.

Então, tudo o que acontece é bom, porque acontece a partir do todo.

Osho, em "Intimidade - Como Confiar Em Si Mesmo e Nos Outros"



Do palavras de Osho.

Gripada



Hoje eu queria cor, luz, alegria, música.
Exatamente por que eu não estou assim.
Quando estamos saudáveis, costumamos não dar importância.
Mas quando não... uma simples gripezinha, uma gota no oceano das doenças...
Meu bem estar foi pras cucuias...
E é engraçado ver que realmente corpo e alma são totalmende indissociáveis.
Não só quando estamos bem e vigorosos fisicamente, mas também no seu movimento contrário.
Tô mole e desanimada....só quero ficar deitada deitada e deitada.
E sem paciência para em uma semana, esperar 7 dias pra ficar boa.

5 de outubro de 2009

Que faço?


Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é o meu açoite.
Só: da boca o que faço agora?
Que faço do dia, da noite?

Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.


Rainer Maria Rilke (4 dezembro 1875, em Praga, Áustria-Hungria - 29 dezembro 1926 em Valmont, Suiça) é considerado o melhor poeta de língua alemã do século XX.

Vale o que vier.


 
 
Mais grave!
Mais eco!
Mais retorno!
Mais tudo!
(Tim Maia)

2 de outubro de 2009

27 dias.



Rio 2016

E em 29/10/2009.

"Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro

Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar
Praia sem fim
Rio, você foi feito pra mim

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão....

Is Love



Don't go changing, trying to please me
You never let me down before
I don't imagine you're too familiar
And I don't see you anymore
I wouldn't leave you in times of trouble
We never could have come this far
I took the good times, I'll take the bad times
I'll take you just the way you are


Don't go trying some new fashion
Don't change the color of your hair
You always have my unspoken passion
Although I might not seem to care


I don't want clever conversation
don't want to work that hard
I just want someone to talk to

I want you just the way you are.


I need to know that you will always be
The same old someone that I knew
What will it take till you believe in me
The way that I believe in you.


I said I love you and that's forever
And this I promise from my heart
I could not love you any better
I love you just the way you are.

Eu tenho alta estima por esta musiquinha.... 


Por que na verdade só queremos ser amados do jeito que somos.


All we need


1 de outubro de 2009

Up!



Carregamos tantas coisas na vida....
Não sabemos nem bem por quê, mas o fato é que não raro somos nós e mais:
Nosso desejos, sonhos, medos, sucessos e fracassos.
É muito peso.
Levamos tantas coisas conosco que acabamos deixando pelo caminho as pequenas (grandes) coisas, os rápidos (eternos) momento de alegrias genuínas...
As já tão cantadas coisas simples, fermento da felicidade, que deixamos pra lá enquanto a procuramos em todos os lugares.
E chega uma hora, que por uma razão qualquer, não há mais sentido em segurar, manter nada do que fomos ou do que queremos um dia.
É o dia do renascimento...
Quando olhamos  pra trás e não vemos mais razão em nada daquilo por que derramamos tantas lágrimas, derretemos de emoção, teorizamos, conjecturamos, procuramos decifrar a todo custo.
Uma hora passa...
E há uma vida toda pela frente a ser aproveitada, em qualquer tempo.
Sempre é possível renascer, dar adeus às vestes que usamos, como falou Fernando... e fazer a travessia.
Para o novo. Para a felicidade.