14 de outubro de 2009

Do entendimento



Por Clarice Lispector:

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."


A gente não sabe, não entende, e portanto não consegue explicar.
Se soubéssemos, entenderíamos.
Como é que se pode entender o que não se sabe?
Aí vem Clarice com seu brilhantismo desconcertante e diz: não entender é uma benção.
Talvez seja, mas tão somente se a gente  não se importar em não entender...
Vá enteder! 

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