21 de setembro de 2009

C'est les printemps



Primavera é tempo de ressurreição. A vida cumpre o ofício de florescer ao seu tempo. O que hoje está revestido de cores precisou passar pelo silêncio das sombras. A vida não é por acaso. Ela é fruto do processo que a encaminha sem pressa e sem atropelos a um destino que não finda, porque é ciclo que a faz continuar em insondáveis movimentos de vida e morte. O florido sobre a terra não é acontecimento sem precedências. Antes da flor, a morte da semente, o suspiro dissonante de quem se desprende do que é para ser revestido de outras grandezas. O que hoje vejo e reconheço belo é apenas uma parte do processo. O que eu não pude ver é o que sustenta a beleza.

A arte de morrer em silêncio é atributo que pertence às sementes. A dureza do chão não permite que os nossos olhos alcancem o acontecimento. Antes de ser flor, a primavera é chão escuro de sombras, vida se entregando ao dialético movimento de uma morte anunciada, cumprida em partes.

A primavera só pode ser o que é porque o outono lhe embalou em seus braços. Outono é o tempo em que as sementes deitam sobre a terra seus destinos de fecundidade. É o tempo em que à morte se entregam, esperançosas de ressurreição. Outono é a maternidade das floradas, dos cantos das cigarras e dos assovios dos ventos. Outono é a preparação das aquarelas, dos trabalhos silenciosos que não causam alardes, mas que mais tarde serão fundamentais para o sustento da beleza que há de vir.

São as estações do tempo. São as estações da vida.

Há em nossos dias uma infinidade de cenas que podemos reconhecer a partir da mística dos outonos e das primaveras. Também nós cumprimos em nossa carne humana os mesmos destinos. Destino de morrer em pequenas partes, mediante sacrifícios que nos faz abraçar o silêncio das sombras...

Destino de florescer costurados em cores, alçados por alegrias que nos caem do céu, quando menos esperadas, anunciando que depois de outonos, a vida sempre nos reserva primaveras...

Floresçamos.

Eu sempre achei esse texto do Pe. Fábio de Melo lindíssimo.
E hoje, pelo menos onde há, a partir de hoje é primavera...
Tempo de desabrochar e florescer.

Assim seja....amém. 

19 de setembro de 2009

Frase do dia



" No matter how big or soft or warm your bed is,
   you still have get out of it"

Pros dias em que não quero nada mais do que isso. E pros mais raros ainda em que posso. 

A vida passa tão depressa..




A dias que não apareço.

E tanta coisa acontecendo.

Acabei percebendo que ou a gente vive pra dentro, se conhecendo, se perquirindo, se descobrindo, ou entra no leito caudaloso do rio da vida e simplesmente nada, pra não se afogar. Simplesmente vai em frente, na busca de tudo aquilo que supõe correto desejar e lutar-se por.

E passa tão depressa....como disse o Quintana ... quando se vê, já seis horas...quando se vê, já é natal...

E passou tão depressa...lembro-me de ir ao cinema com Mamãe ver Ghost, cinema de rua, do centro da cidade, como já não existe mais em Fortaleza... lembro-me de pegar na locadora "Ritmo quente" em VHS par assistir no videocassete, novidade das novidades para aqueles meus anos infantis...as sessões da tarde em frente à tv.

E nessa sucessão de dias eis-me aqui.

Descobri outra coisa também: a gente às vezes entra no leito caudaloso do rio da vida para evitar o mergulho dentro de nós.....

Splash!

14 de setembro de 2009

Um jeito novo de caminhar.


Ninguém sabe o que há dentro de si,
até ter que colocar pra fora.
                       Ernest Hemingway


"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro". Clarice Lispector.

"Daqui vinte anos você estará mais decepcionado pelas coisas que você não fez do que pelas coisas que você fez. Portanto livre-se das bolinas. Navegue longe dos portos seguros. Pegue os ventos da aventura em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra." (Mark Twain) 

CARTAS DE AMOR
     (Fernando Pessoa)

Todas as cartas de amor
são ridículas.

Não seriam cartas de amor
se não fossem  ridículas.

Também escrevi, no meu tempo,
cartas de  amor como as outras,
ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
têm de ser ridículas .

Quem me dera o tempo,
em que eu escrevia
sem dar por isso, cartas de amor ,
ridículas.

Afinal,só as criaturas
que nunca escreveram Cartas de amor
        É que são ridículas...


Dando voz ao que vai no meu peito.

11 de setembro de 2009

O avesso das coisas.

Cordeiro em pele de lobo.

10 de setembro de 2009

Tudo bem também.



"O coração, se pudesse pensar, pararia.
Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também".
(Bernardo Soares)

A leitura pra mim é tudo. Dela tiro o pão nosso. É o que gosto de fazer nas minhas horas livres. A partir dela, dou forma a sorrisos e reflexões. Deito lágrimas ou as seco. Viajo e saio do meu lugar comum.
E de tudo o que leio, sempre me volto à algumas leituras, que, mais acuradamente, ajudam-me a me desvendar para mim mesma. 
É da poesia especialmente que estou falando. A poesia tem canal direto com a minha alma. Muitas vezes, é através dela que me permito viver grande parte de meus sentimentos que ficam, por contigência ou necessidade, guardados, bem guardados.
Apesar dos meu quereres pelo Leminski, meu respeito pelo Bandeira, a ternura que tenho pelo Quintana, a admiração pelo Drummond, só para citar alguns os quais  visito mais frequentemente, o Fernando Pessoa é o meu eleito: ele me decifra e não é raro, a cada leitura que faço, me descobrir  e me reinventar em suas palavras.
Se de logo, sua poesia sempre me afetou muito, no finalzinho do ano passado comprei o Livro do desassossego. Que foi pra mim um achado. Hoje ele é meu livro de cabeceiras e de consulta. Quase um oráculo rsrsrs.
Coloquei um excerto, esse, não o retrato do que estou vivendo, mas a representação da vontade do que eu queria estar sentindo agora.
Deixar um pouco minhas tantas e tão frequentes questões. Deixar um pouco as vestes do que sou e esperar. Se acontecer,bem, se não acontecer, tudo bem também. Afinal, esta estalagem é passageira e a diligência vai chegar para todos nós....

6 de setembro de 2009

O Labirinto


Amar é conquistar uma jóia que se encontra do outro lado de um grande labirinto. Para alcançá-la, é preciso ter a coragem de enfrentá-lo.

Ultrapassar um labirinto nunca é fácil. Nos perdemos, damos voltas repetidas, rumamos sem indicação, não sabemos por onde seguir, encontramos paredes intransponíveis. Achamos que chegamos ao fim do desafio, para percebermos que apenas retornamos ao mesmo lugar.

Às vezes, é preciso voltar ao início. Conceber novas formas de identificar a trilha certa no emaranhado de possibilidades de direção e recomeçar a jornada. Para conquistar o labirinto, precisamos primeiramente, conquistar a nós mesmos: desconstruir aquilo que consideramos correto e justo, certo, definido. É necessário olhar as coisas de jeito novo. Encontrar outras saídas.

Há quem nunca enfrente o desafio, vivendo à margem do sentimento. Há quem dê passos tímidos e volte ao perceber os primeiros sinais da falta de controle que a busca impõe: para achar o amor, devemos nos perder. É um preço demasiado alto e por isso que tantas pessoas passam pela vida sem conhecer a centelha divina que habita em cada um.

Ela adquire vida quando alcançamos a jóia.

Por isso, viver com amor supera todas as desilusões que podemos encarar ao atravessar o labirinto. E faz com que todos os dias nos arrisquemos à sua procura.

Retorno




um passarinho
volta pra árvore
que não mais existe


meu pensamento
voa até você
só pra ficar triste

Paulo Leminski

4 de setembro de 2009

Words of wisdon




When i find myself in times of trouble
Mother mary comes to me
Speaking words of wisdom, let it be.

And in my hour of darkness
She is standing right in front of me
Speaking words of wisdom, let it be.

Let it be, let it be.
Let it be, let it be.
Whisper words of wisdom, let it be.

And when the broken hearted people
Living in the world agree,
There will be an answer, let it be.

For though they may be parted there is
Still a chance that they will see
There will be an answer, let it be.

Let it be, let it be.
Let it be, let it be.
There will be an answer, let it be.

Let it be, let it be.
Let it be, let it be.
Whisper words of wisdom, let it be.

And when the night is cloudy,
There is still a light that shines on me,
Shine on until tomorrow, let it be.

I wake up to the sound of music
Mother mary comes to me
There will be no sorrow, let it be.
Let it be, let it be.
Let it be, let it be.
There will be no sorrow, let it be.
Let it be, let it be,
Let it be, let it be.
Whisper words of wisdom, let it be.

“Let It Be” é uma canção dos Beatles composta por Paul McCartney, creditada à dupla Lennon-McCartney, e lançada no Lado A do single Let It Be/You Know My Name (Look Up The Number) de 1970. A canção também é faixa título do último disco em atividade, " Let it be e do filme de mesmo nome, lançado também em 1970.
Paul fala sobre a letra na autobiografia “ Many years from now” de Barry Milles: “Uma noite, durante aqueles tempos intensos, eu tive um sonho com minha mãe que tinha morrido a mais de 10 anos atrás.E foi tão bom vê-la porque isso é fantástico nos sonhos: Você fica unida a essa pessoa por segundos e parece que esteve presente fisicamente também. Foi ótimo para mim e ela parecia estar em paz no sonho dizendo, ‘Tudo ficará bem, não se preocupe, pois tudo se acertará.’ Eu não me lembro se ela usou a palavra ‘Let it be’ (Deixa estar) mas era o sentido do seu conselho. Eu me senti muito abençoado por ter tido aquele sonho. E comecei a canção literalmente com a frase ‘Mother Mary.’ A canção é baseada naquele sonho.” ( from Wiki)

2 de setembro de 2009

Os quereres de cada um.

 


Não Quero Rosas Desde que Haja Rosas
Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?
Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.

Para quê?... Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria...
Ah, com que esmola a aquecerei?...

(Fernando Pessoa)



Já é a segunda vez que isso acontece. 
Dias atrás questionei a noção, pra mim meio esquisita - porém real- de que somente queremos aquilo que não possuímos ou não podemos possuir. Pra variar, o que me impulsionou foi mais uma vez constatar que, de fato, o que temos à mão não nos interessa mais. Os olhos só brilham mesmo por aquilo que não foi apropriado.
Como criança que chora pelo brinquedo e depois que ganha, gasta com ele no máximo 10 minutos e deixa pra lá.
O que vale não é o prazer da brincadeira, mas tão somente o fato de obter aquele objeto.
Acho errado. 
Erradíssimo, na verdade.
Mas a despeito do meu sentir sobre a realidade, entendo que devo render-me a ela, pois nada do que se poetize, teorize ou conceba supera aquela verdade nua e crua que vemos todos os dias.
A sisudez, a insipidez, a covardia, e etc etc etc. Não quero enfeiar o texto com a vida real.
Há! 
Vida real.

Pois que lá vem Fernando Pessoa falando novamente sobre o mesmo tema que abordei.... sempre ele, sempre.