5 de agosto de 2009

Amar o perdido.



A gente sabe que ama.
Nunca o por quê ama.
Por que o Palmeiras e não o Fluminense?
Por que laranja e não banana?
Por que praia e não serra?
Por que uma determinada pessoa que não te dá bola, não corresponde às suas expectativas ao invés daquele que está bloqueado no msn por que não pode te ver on-line e já vem conversar contigo?

Questões irrespondíveis.

Eu sei que a Martha Medeiros já andou escrevendo sobre o assunto.
E Drummond, lindamente, também já falou sobre isso, no seu poema “ As sem-razões do amor”.
Apesar da clareza solar das palavras do Itabirano, além desse poema, me veio à mente instantaneamente uma outra frase dele ( eu adoro Drummond):

"Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la.Este prevalece."

E assim vamos experimentando este mistério que é amar.
Este sentimento que é tão intrinsecamente formado pelo que nós próprios somos, acreditamos ou queremos ser. O fato é que o amor que sentimos ( e por quê ou por quem o sentimos) diz mais sobre nós do que sobre o ser amado...
Cada um, por isso, tem o seu jeito de amar. Cada um, com suas qualidades e seus defeitos, aprende exteriorizar essa dádiva. De forma única.
Por isso que às vezes ouvimos alguns “ eu te amo” que parecem tão inverossímeis, tão divorciados da realidade...
É, divorciados da NOSSA realidade. Daquilo que conhecemos e aprendemos a chamar de amor. O que é amor pra gente, o nosso jeito de amar. Que, quase certamente, é diferente da forma de amar que a outra pessoa aprendeu.
Então, como equacionar estas discrepâncias?
Como observar determinadas condutas de alguém que contrariam frontalmente o que ela diz, e continuar acreditando em suas palavras?
Essa crença faz sentido?
Entra aí a sutil diferença entre saber-se e sentir-se amado. Coisas bem diferentes...

È quando observo casais lutando, brigando, exigindo, controlando o outro na tentativa de gerar uma mudança de comportamento, uma adequação às expectativas criadas.e vejo o quanto isso é apenas um enorme deseperdício de energia. É como se cada pessoa tivesse um molde de amor. E o outro, para poder ter meu amor, deveria entrar naquele molde. Se não entra, tem que mudar. Aperta daqui, empurra dali, dobra acolá..pra que as pessoas se encaixem nos nossos moldes. Muito incômodo, pra não dizer doloroso.
Em palavras modernas, são os relacionamentos não-funcionais ( os quais vemos aos montes por aí: casais brigando em público, se traindo, mentindo, omitindo, tentando controlar o incontrolável...)
Amar não é tentar mudar alguém.
Tenho medo do amor que só pode ser dado sob determinadas condições.
Não acredito no amor que pede recibo do que se dá pra verificar se a balança está equilibrada.
Amor não é comércio exterior.
É claro que o encontro de horizontes gera conflitos e sempre serão necessários ajustes entre aqueles que resolvem ficar juntos. Mas eles advém de um acerto, uma vontade partilhada. Jamais imposição.
Não há formulas para o amor. È verdade. Cada casal encontra sua dinâmica. Mas mesmo sem fórmulas, existe um pressuposto para que o amor se realize em sua plenitude: ele deve ser incondicional.
Amar por amar simplesmente. Amar, “ apesar de “...
Amar, mesmo com...
E aí estou de volta ao Itabirano.
Que como ninguém soube expressa o que estou tentando dizer:

As Sem - Razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.

Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.


Eu sei que é um sonho, uma utopia, essa entrega despudorada ao amor. Onde estão nossas garantias? Como vou dar esse salto, esse passo? Sem dúvida, é um risco muito grande. E infelizmente, admito: sofre-se muito. É verdade, há um preço a se pagar por esse tipo de amor com o qual sonho.
O mais comum é não encontra-lo....
Essa já é a maior punição que se pode ter.

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